Ela não queria que ele sentisse fome
Ele sentiu
Ela não queria que ele sofresse de amor
Ele sofreu
Ela queria que ele dormisse
Não dormiu
Ela não queria que ele perdesse
Ele perdeu
Ela não queria que ele sentisse frio
Ele sentiu
Ela não queria que ele sentisse medo
Ele tremeu
Ela não queria que ele caísse
Ele caiu
Ela não queria que ele esquecesse a fé
Ele esqueceu
Ela queria a pele dele fina
Calejou
Ela queria protegê-lo
Conseguiu
No desespero mais profundo
A sentiu.
Na dor mais aguda
Se lembrou
Das lágrimas, dos esporros, de suas tabaquices, de botar o lixo pra fora, de apagar a luz do quintal, de saber seu lugar, de não falar alto que está com fome, só no seu ouvido, de guardar seus brinquedos, separar a farda da escola pro dia seguinte, de arrumar a bolsa, de respeitar os mais velhos, de varrer o terraço, de pedir a benção, de se despedir.
Se lembrou de sua mãe solteira.
De sua mãe guerreira.
De como ser fogueira
Nesse mundo gélido.
Chama eterna que brilha sobre a minha.
Longe das 1% mesquinhas
Ostentando em capa de revista
Aparência perfeita no dia após o parto.
Não sabem elas o que é abraçar o filho durante assalto
Abaixar sua cabeça no ônibus, fazê-lo nem perceber
Não sabem elas o que é não ter roupa nova para não atrasar a escola
Comprar-lhe bolsa nova, ir trabalhar de sacola
Ele encontra a fé perdida.
Em si mesmo, constante lida
Se lembrou de sua mãe solteira.
De sua mãe guerreira.
De como ser fogueira
Nesse mundo gélido.
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