Ouvi o que também tem se convencionado chamar de brega
Ter como prelúdio a narrativa
Do que também tem se convencionado chamar programa policial
Como é difícil policiar as ideias que me ocorrem
Sobretudo porque falava de um crime passional
A polícia chegou em instantes
Disse o repórter policial
Me fez lembrar de Josebias
Que me deixou por muitos dias
Lhe devendo esse texto
Pretexto qualquer, revejo
Voltar do trabalho com medo de levar um tiro
É normal num Brasil desunido
Andar na rua sempre ligeiro sem achar sentido
É normal num Brasil iludido
Por muitas vezes esqueci seu nome
Não sei se por ser atípico
Habitualmente não ouvido
Nem visto
Nem lembrado
Mas nossos medos se casaram
Não sei se na igreja
No bar
Ou na empresa
Que seguiam alheias a nossa desgraça
Sim, Josebias fedia a cachaça
Sim, ele parecia uma ameaça
Pra si
Pra si
Nos pés, sandálias toradas
Nos olhos, confusão e raiva
Perguntei se queria cachaça
Evangelhos, trabalho
Ou ajuda com seu braço quebrado
Seu cavalo assustado
Olhando aturdido no asfalto
O vem-vai de carros
Com a pata presa à carroça
Que foi atropelada por um carro
Que saiu no voado
Josebias não queria me deixar ajuda-lo
Essa resistência lhe era ânima
Alquimia dos dados
Do destino de quem anda
Josebias mal se sustentava nas pernas e na vida
Mandei-o sentar na parada
Ele se levantava
Quase cai por cima do braço quebrado
Teria caído se eu não tivesse ajudado
Liguei para os bombeiros, disseram-me estar sem recursos
A gente que arrume tudo
Também liguei pro samu
Quase os mandei tomar noção
Do que é não ter recurso
telefonistas me sacudiam para um lado e outro
e eu não conseguia
Repetir a mesma explicação
do que a noite nos trazia
Josebias queria levantar
Eu não deixava
Josebias me deu um tapa
Na cara
Dei-lhe a outra
Ele não quis
Éramos dor e silêncio
Rompido
Por risos no bar
Ou música
Pelos que dizem evangelizar
Ou música
Ou por buzinas-trombetas
Dos carros com adesivos:
Deus que me deu
Ouve-se o som da sirene
O socorro estaciona
Não me despeço de Josebias
Saio andando com um bom sentimento
De quem recebeu a oportunidade
De abdicar da vendeta que suja nossa cidade
E na cidade da luz
Nada disso entra
Só pessoas nuas
Tipo festa do cabide
Só que quem perturbar
Veste a carne
E sai de casa
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