Eu encontrei a madrugada
Ou foi ela que me encontrou
Eu naveguei por ela
Ou ela me navegou
A gente sempre se arremessa
Nas ideias que buscam florescer
E faz descoberta
De véu de adormecer
Desvela-te, poeta
Ao descer do céu
Estrelinha me disse:
Pai, quando a gente tá no céu,
Quer ficar na terra
Quando a gente está na terra
Quer estar no céu.
eu, Pai, insisto
o melhor lugar é onde a gente está
só lá é possível existir
é onde brilha sua contemplação sacra
enraizada em ti
turbina e freio de ti, de tua forma, de tua expressão
da licença exclusiva e irreplicável que todos nós temos
para ser o que somos
únicos, singulares.
Estrelinha retruca: Painho é maluco
Mas é lindo
Me abraça e finge que sou um Pokémon
Imagina que pode me usar para os perigos
E simbolicamente,
Tomara que possa
O que me faltava era poema, seu moço
Fui buscar com muito esforço
Água do fundo do poço
Que ela já está se acabando
Mas começa de novo
No universo em novos meandros
Vi afluentes constantes
Tornarem-se escassas fontes
Por degradação e violência
Exploração de sua potência
Vi poço resistir firme
A quebra e combustão
De fluentes incríveis
de irmã e irmão
Já faltou subsidio básico
Para existência de uma cultura
Para seu sustentamento
Para sua semeadura
Que faltar poema é bronca safada
Poema a gente faz, seu moço
A Lua me chama
Como sempre chamou
Seu olhar me congela
Ainda assim eu vou
Sem saber muito bem como
Sem saber muito bem porque
Não saber é caminho
Para quem deseja viver
Não me importa encontrar sentido
Me importa caçar o sentido
Como caça o cacoblo 7 flechas
Mas não se engane,
Buscar é a meta
Encontrar é o fim
Todos findamos
Antes de lágrimas verter
Tenho só um pedido a lhe fazer
Desconecte-se, vá olhar o nada
Que a vida não se repete
E todas as belezas prometem
Sumir na próxima alvorada
Tu és alvorada
Uma bela noite
Um violão desajustado
Um tocador desajustado
Um repertório colonizado
Eu não ia cantar
Mas a Lua era crescente
A estrela Dalva estava tão perto dela
Que precisei alumiar a cidadela
Cantei para a Lua
Como nunca havia cantado
Como quem reconhece
Sua insignificância
Perante os Astros
E os mortais cantaram comigo
Aplaudiram e acharam lindo
Meu sotaque Pernambucano
Sobrevoar São Paulo é emblemático
Ver tão miúdos os prédios tão altos
As casinhas e estradas engolindo
O verde que falha em manter o ar limpo
As nuvens macias
Não revelam o Co2 emitido
Nem as águas poluídas
Nem o Tietê putrefado
Pela cidade crescida
Pelo que que as pessoas acreditam
O que seria o progresso
Escrito na nossa bandeira
De lema controverso
Acho que ia pegar mal
Se tivessem escrito:
"Manipulação e morte da natureza"
Ou
"Nenhum índio fica vivo"
Ou
"Rua para negros, castelos para gringos"
Antes de defender o progresso
Você já se perguntou
Para onde estamos progredindo?
Pegando o último pau de arara
Do Recife querendo ser Rio
Ou São Paulo
Tanto quanto Brasil
querendo ser Estados Unidos
Que foram muito eficientes
Em exterminar sua cultura indígena
No frio as pessoas ficam mais chiques
É o que dizem
Nestes dias que passei no Sul
Houve exceção, dias quentes de verão
E por várias vezes
Pude andar descalço
Como é de meu agrado
Embora ganhasse olhares espantados
Dos pés a cabeça
Para meu deleite, é claro
Quem me conhece sabe
Maior motivação para fazer algo
É alguém me dizendo pra eu não fazer
Como o anum branco que pude ver
Sozinho, cruzou meu caminho
Diferente de Paulista
Onde andam em bandos de trinta
E variam entre serem brancos e pretos
Seus cantos escondem segredos
Que só minha mata amada sabe
E jamais lhe dirá por via de poema algum
Trate você de ir na trilha
Contemplar o anum
Ou contente-se com esse registro falso
De sua majestosa e divina beleza
As margens do Rio Guaíba
Na cidade de Porto Alegre
Vi passar chibatas
Disfarçadas de cacetete
Ou eu delirava?
Tamanha beleza de tudo
Talvez me deixou confuso
Mas não entendi
A quantidade de fuzis
Que haviam dentro daquela viatura
Não sei qual era o mal
Que tentava ocultar o crepúsculo
Que meu estranhamento
Parecia ser exdrúxulo
Mas que monstro precisava
De tamanha força de guerra
Para ser morto
Em uma tarde tão bela?
Famílias andavam sem máscaras
Em meio a uma Pandemia
Garotas rebolavam
Ao som que as incitava
Pessoas fumavam várias ervas
Tomavam chimarrão
Outras pedalavam sem cuidado
Ou direção
E a morte passeava no meio da multidão
Havia uma placa informando
Que as águas eram poluídas
E impróprias para banho
Uns passeavam de jet ski
Outros de lancha
Outros descalços a margem
Eram crianças
E a morte nadava por ali
E até agora eu não entendi
que monstro precisava
De tamanha força de guerra
Para ser morto
Em uma tarde tão bela?
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