Em algum lugar de passárgada
Na minhoca de metal
O anúncio era claro como cristal
“Não estimule o trabalho infantil”
No mínimo curioso
Era o anúncio ser trilha sonora
Para a exploração notória
De garotas e garotos
Que nem um menino
Que vi saudar com graça e paz
A indiferença dos hinos
E o louvor do capataz
O menino pedia atenção
Para fazer mágica com as cartas
Das poucas que lhe foram dadas
Ele tirou essa da manga
Esse texto é mesmo uma confissão
E eu sou mesmo um contraventor
Seria mais ainda
Não fosse por mestres Bimba
Pastinha, e todos meus ancestrais que lutaram por nossa libertação
Dei dois reais que não podia
Minhas contas iam mal
Perguntei se ele estava na escola
O nome da professora
Onde morava?
Pra não ter surpresa
Em comunidade
E porque eu sei da verdade
Que move montanhas e cadeiras
Perguntei se o menino fazia capoeira
E não é que fazia? Mas estava afastado
E não estivesse, o professor não tinha deixado
Professor que eu também conhecia
Por sinal, gente fina
Mas andou relapso com o social
Se ele soubesse tamanho mal...
Talvez saiba
“Salve a capoeira, maninho. Até”
Fui trabalhar
De repente, era noite, Tudo normal
Toda gente espremida
Na minhoca de metal
Na doente corrida pra “chegar lá”
O menino tinha entendido bem
“No Pain, no gain”
Já tinha um sonzinho com microfone
Sua voz ia mais longe
Recebia indiferenças intermunicipais
Levarei flores no jazido de sua infância
Sob o qual certamente haverá o epitáfio:
Aqui jaz o empreendedorismo.
0 comentários:
Postar um comentário