As
vezes a gente sai por aí
Sem
saber direito o roteiro
Ou
destino
Amai
ao próximo como a ti mesmo
Em
nome de Jesus
Até
que lhes seja conveniente
não
é o que nos foi passado
o
espírito não deve ser enganado
o
amor não deve ser esganado
o
ódio, por vezes instaurado
amarga
a boca e o plano
O
Umbral nasce do olhar
Paladar,
tato e todos os sete sentidos
Como
casais destruídos
Se
maltratando por não poder se amar
Eu
não sei qual punição
Acalmaria
o coração
Que
em busca da cura
Achou
a doença que aflige os preguiçosos
A
culpa
Como
se fossemos todos loucos
Num
manicômio de 1000 anos atrás
Numa
era onde poucos
Sabiam
sobre a paz
Há
1000 anos atrás
Numa
era onde os casais
Seguiam
descalços nas ladeiras de Olinda
Procurando
batuque ou poesia, talvez procurem ainda
Foi
há 1000 anos atrás
Numa
era onde os casais
Cantavam
na varanda paquerando flores brancas
À
meia luz, dançavam coco, capoeira e ciranda
Foi
há 1000 anos atrás
Os
casais eram selvagens
Cheios
de coragem
De
andar em qualquer vale da morte
Agradecendo
a deus a boa sorte
De
ter se encontrado
Foi
há algum tempo atrás
Que
os afetos tem relógio próprio
E
desejos impróprios para os demais
Que
nunca foram do sexo à câimbra
da
oração à dança
da
cidade à favela
Isso
faz tempo
Essa
coisa de voar
Direto
para a praia
Pra
tentar lembrar
De
alguém sem ódio algum
Nas
palavras ou atitudes
Desde
antes
Os
casais felizes sempre despertaram a língua
De
quem não beijou Ícaro
E
suas asas em cinzas
Nem
as passou na testa na quarta-feira ingrata
Onde
se permitia ser a própria maré alta
De
se lavar o espírito
Desde
antes
Eles
cantam na chuva nascida dos próprios olhos
E
politonam com propriedade natural
Em
tom maior, melodia bem sentimental:
“Só
a gente sabe, só a gente sabe
Que
sempre houve quem quisesse a gente longe da verdade
Só
a gente sabe, só a gente sabe
Que
soltaram fogos quando o rio bifurcou desmatando a vontade
Só
a gente sabe, só a gente sabe
Tudo
que se sucedeu, cada um que enfraqueceu exatamente onde não podia
Só
a gente sabe, só a gente sabe
O
amor que se viveu
E
se vive
Só
a gente sabe, só a gente sabe
da
escolha pelo carinho, dos cortes de caminho
até
que a morte os separe
só
a gente sabe
de
todo chão que a gente impregnou de eternidade
só
a gente sabe
Pode
fechar a conta do analista
Que
por mais que você insista
Em
saber porquê tudo o que nasce, morre
Só
a gente sabe, só a gente sabe”