Payá
era um índio feio
Era
um índio jovem
Eis
que o amor veio
E
todas as coisas se movem
Payá
era um jovem indo
Num
caminho feio
De
um deus que não era seu
E
por isso não era lindo
Payá
se corrompeu
De
tão puro que era
Quase
curva sua nobreza
Às
curvas do corpo dela
A
dor era eminente:
Abdicar
do que sempre se quis
Mantendo
o melhor de si
Ou
julgar-se insuficiente?
Payá
temeu não ser sábio
Com
a permissão do tal deus
Enroscou-se
numa folha
E
dormiu cem anos.
Melhor
que ver o amor partir
Foi
vê-lo ruir
Do
“posso” que a tingia de orgulho clero
Ao
pó-osso que atingia sua ferida Eros
Finalmente
limpo
Ansiou
por seu olimpo:
Matas
virgens, bichos falantes, curumins.
Quando
Payá abriu os olhos
Tinha
cento e catorze motivos
Pra
sentir ódio de seu sono tranquilo.
Não
havia mais a dor
Daquele
amor hoje trivial
Diante
da maldição que parecia irreal
Os
bichos tinham se calado
Diante
das coisas dos homens
Que
se deixavam morrer de fome
E
só se olhavam de lado
Os
curumins não se ralavam
Só
brincavam sentados
Dos
velhos não mais ouviam
Histórias
dos antepassados
Aliás
só sabiam correr de si
Em
direção a estática morte do devir
Payá
sofria muito mais do que antes
Estava
de luto por algo mais importante
A
nova era do homem.
Payá
não sabia sofrer
E
quis dormir quantas luas bastassem
Para
que o eterno retorno o fizesse Adão
E
ele pudesse não perpetuar a espécie
A
mãe natureza perecera
De
qualquer maneira,
Teu
destino é chorar, pobre Payá
Pelo
amor de uma mulher
1 comentários:
Muito bom, camarada, muito bom mesmo.
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