Era uma vez
Um peixe sonhador
Que sabia viver
Num ciclo de dor
Em águas carinhosas
Que de tanto lhe afogar
Fez-lhe crer que a vida
Só tinha conforto pra dar
Um dia o peixe nadou para a superfície
Saltou tão alto quanto podia
Mirou o infinito azul céu
Que imensidão linda.
Vento seco, tão cortante
Tanto medo num instante
Seus órgãos estranharam tanta falta de carinho
Clamaram pela queda noutro azul infindo
Saltar, prazer verossímil
Saltar, pecado terrível
Saltar, vida necessária
Saltar, redenção arbitrária
O carinho da água lhe arranhava
O corte do vento aterrorizava
A força da água lhe aprisionava
A força do vento lhe desamparava.
...
Era uma vez uma ave.
Voar era sua prisão
Liberdade maldita
Sua natural condição
Ventos lhe acariciavam
Mas não lhe interessavam
Como o infinito azul do mar
Paixão na qual mirou e decidiu mergulhar.
As águas já não eram mais lindas
Lhe aterrorizava
Lhe roubava os sonhos
Na medida que a afogava.
Voltando pro seu céu
Já não sabia que destino abraçar
Será que havia diferença em qual vida cursar?
Seis por meia dúzia
Dor por dor
Dúvida por dúvida
Solidão por mal de amor.
O peixe sonhava com o céu
A ave sonhava com o mar
Foram ambos se aventurar
Nesta segunda vez,
O acaso não foi cortês
Se chocaram.
Morreram.
Viveram, sofreram, sonharam, morreram.
Tudo com amor.
Se foram felizes?
Quem decide é você, leitor.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Pra quem ama, luta
Pra quem sonha, luto
Por quem sonho, luto
Quem me ama, luta
Se não ama, espera
Se ama, desespera
Se não ama, chora
Se ama, vem-te embora
Me ame como Cristo ou Gandhi.
Quebrando tudo que te aborrece
Negando aquilo que te apetece.
Mas não esquece.
Meu defeito, ser cristão.
Idealista, nascido na véspera.
Morro antes da festa.
Pra não ver as cachaças
Que nego ter endossado
nos amores, nas desgraças
Estigmas do passado.
Pra quem sonha, luto
Por quem sonho, luto
Quem me ama, luta
Se não ama, espera
Se ama, desespera
Se não ama, chora
Se ama, vem-te embora
Me ame como Cristo ou Gandhi.
Quebrando tudo que te aborrece
Negando aquilo que te apetece.
Mas não esquece.
Meu defeito, ser cristão.
Idealista, nascido na véspera.
Morro antes da festa.
Pra não ver as cachaças
Que nego ter endossado
nos amores, nas desgraças
Estigmas do passado.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Me
leva ali, perto do vulcão que te viu nascer
Me
deixa conter erupção que esvazia você
Me
tira daqui, Rubi
Sonho
que segue a crescer
Como
flor, como tumor, quem vai saber?
Me
tira daqui, Rubi
Deixa
eu dizer o que tu gostas de ouvir
Deixa
eu bagunçar você?
Me
tira daqui, Rubi.
Que
eu provoco erupção
Agora
deixo ela sair e expurgar farpas do coração.
Me
tira daqui, Rubi.
Nosso
olhar, mais um laser
Do
teu corpo de luz coberto com meu blazer
Dorme
não, Rubi.
Acorda
que o tempo ruge e grande é a Sapucaí.
Samba
comigo, Rubi
Sonha
comigo, Rubi.
Me
tira daqui.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Um
jardineiro com sede de mais
Quase
matou sua flor afogada
Outro
matou.
Um
surfista com sede de mais
Desrespeitou
sua jornada
Outro
se afogou.
Um
iluminador triste de mais
Pôs
luz de cegar alma
Outro
cegou.
Nobre
virtude, moderação.
Segunda
chance, uma ilusão.
Que
pode, por acaso, acontecer
E
oportunizar nascer outras flores bonitas, outros surfistas, outras luzes.
Segunda
chance, uma ilusão.
Que
pode, por caso, acontecer
E
oportunizar morrer
Tudo
em si que não é você.
Tempo,
soberano.
Quantos
segundos o senhor me dá?
Quantas
segundas? Quantas terceiras pessoas profundas?
Preciso
decidir agora?
Então
decido.
Nada
sei, vou indo.
Vivendo,
aprendendo, morrendo, vivendo de novo.
Em moderato, sol maior.
domingo, 15 de janeiro de 2017
Amor
que tava ausente,
Morreu
Jardim que não regou
Morreu
Pássaro
que não alimentou
Morreu
Escolha
que fez mal
Perdeu
Trampo
que não honrou
Perdeu
Celular
que vacilou
Perdeu.
Brasil
Vacilou,
perdeu.
Vacilou,
morreu.
Sempre
tem alguém mal alimentado
Tomando
de você o que não lhe foi dado
Ou
alguém que já se acostumou a ter tudo
E
não vê o absurdo
Em
te usar até a última compra
A
vida só se torna viva com o exercício de ir e vir
Um
espaço só se torna público com o exercício de ir e vir
É
preciso ocupar e resistir
Ou vamos perder tudo.
Até o amor?
É. Até o amor.
Direito
de ir vir.
Luxo
de quem tem
Condições
de expurgar
Pensamento
que faz bem.
Até o amor?
É. Até o amor.
O
que é público?
O
que é privado?
Escolha
de quem luta
Pra
não ser manipulado.
sábado, 14 de janeiro de 2017
Atlas
enfrentou Zeus
Atlas
perdeu
Atlas
não podia amar o mundo
Atlas
tinha que segurar o céu
Davi
enfrentou Deus
Davi
perdeu
Davi
não podia amar todo mundo
Davi
tinha que marchar pelo céu
Como
castigo, Atlas não podia amar.
Como
missão, Davi não podia amar.
Atlas
guia quem Zeus manda
Davi
protege o que Deus ama
No
pós-vida, Ícaro e Cristo sorriem juntos.
Ícaro
amou o Sol tanto quanto deu
Cristo
fez com as leis o que bem entendeu
No
pós-vida, Davi e Atlas choram juntos
Os
fios cinzas que no juízo coletaram, cinzas que não vingaram
Fênix
que não voltou, amor que viajou enquanto eles salvavam o mundo.
Mas
eles salvaram o mundo?
Deles
mesmos? Um sorriso de canto de boca.
Malícia
do submundo, anjos tortos, imundos.
Cheios
de amor proibido.
Fios
cinzas correm os asfaltos
Lembram
os atos de heroísmo
Tanto
quanto atos falhos
Filhos
de nossos sacrifícios
Numa
boca cabem quantos sorrisos?
Se
beijam, no máximo dois.
Há
choros que possibilitam tantos sorrisos
Deixa
que eu conto depois.
Cristo,
Ícaro, Atlas, Davi.
Dançam,
se matam, se amam
Numa
guerra santa
Dentro
de mim.
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