Um
dia dos pais
Um
domingo chuvoso
Ainda
assim um céu claro
Resplandece
aos poucos
Aos
poucos que olham para o infinito
E
aos menos ainda que não piscaram
Quando
o infinito olhou de volta
Mas
de volta,
O
dia está lindo, eu estou lindo
Meu
pai se orgulharia, tenho certeza.
Ele
disse que queria que um de seus filhos
Pendesse
para o lado da música
Pai,
eu pendi.
Ainda
assim, afasta de mim esse cálice
Essa
ilusão mórbida de estabilidade
Essa
densidade estática de valores
Esse
aumento de salário para calar-lhe o instinto
Que
de tão suprimido
É
só obediência e execução
Sem
espaço para coração
E
é um domingo chuvoso
O
dia dos pais fica terno e ameno
E
só consigo pensar na mãe incrível que tive
Aquieta-me
o espírito ver minhas meninas
Cochilando
por vezes
Por
entre minhas razões para acordar
Um
lindo, terno e ameno
Dia
dos pais
Onde
pude pedalar até a santa
E
junto ao mestre dizer odoyá
Grato
as correntes negreiras
Que
me arrastaram pra lá
Que
está cravado na minha história
Este
poema cômico
Que
venho tecendo entre colinas de mim
O
balançar a cabeça como reprovação
Ao
homem de camisa social
Pescando
com a rede de arrasto
Onde
claramente devia ser rede de espera
Pois
aprendi a pescar com meus tios
Na
encantada ilha de Itamaracá
Onde
acumulei mais saberes
Que
qualquer obra possa comportar
E
desses todos,
Dançar
na ciranda de Lia
No
côco de Selma
Subir
no pé de azeitona
Atravessar
o mangue a nado
Conversar
com o mar
Jogar
bola descalço
E
comer picolé de côco com chocolate
São
só ínfima parte
O
resto,
É
só um dia dos pais chuvoso, terno, lindo e ameno