A Palavra

A palavra tem poder.

Principalmente a que você diz

É praga a colheitas e pólen a jardins.

A palavra é você

Uma fonte jorra o que tem

Envenenando ou saciando a sede de quem vem

(e olhe que há quem tenha sede de veneno)

A palavra é bolha

Flutua esperando alguém estourar

É preciso o sopro certo pra ela poder se formar

A palavra é escolha

Até quando se está calado

Editam-se as palavras, entende-se errado.

(E olhe que há quem não se escute)

A palavra é cura

Canta, encanta, beija.

Faz chover aquilo que se deseja.

A palavra é curta

Obra prima cinematográfica

Átomo repartido, bomba laica.

A palavra é dreno

Passa por nós enquanto passamos por ela

Suga-nos e expõe-nos nus em passarelas

A palavra é.

Anzóis Azuis

Você tem trocado o azul do céu pelo azul do Facebook?

Questionaram-me da mesmice do alto

Queixei-me da mesmice do baixo.

Eu podia ver nuvens dançando, sonho formando

Outrem só via sono, claridade demais, sono.

Eu podia ver biquinho na self, demência

Mais biquinho, incongruência.

Outrem via nudes, astronomia, ciências políticas, posta de sonhos a R$19,90

Hoje o presidente do Brasil mudou uma decisão

pela luta on line da população.

Hoje outrem morreu atropelado, não viu sinal de outra cor.

Mirava-se no seu sonho azulado.

Anzóis azuis do alto e do baixo querem nos fisgar.

Vem então o cético me alertar

Da beleza do mundo visto à meia altura.

Legado

Quando você grita, ensina o outro a gritar

Quando você bate, ensina o outro a bater

Quando você colhe, ensina o outro a colher

Quando você ama, ensina o outro a amar